O Assunto é Cinema, programa veiculado todas as quintas-feiras, a partir das 22 horas, na Rádio 104,7 Educativa e produzido pelos jornalistas Clayton Sales e Daniel Rockenbach, revisitou “Karatê Kid: Lendas”, exibido nos cinemas.
Ele conta a história de Li Fong, jovem chinês que se muda com a mãe para Nova York sob a promessa de não mais praticar artes marciais. Talentoso aprendiz de kung-fu, ele e a mãe sofrem com a dor do assassinato do irmão mais velho, também lutador, cometido pela gangue de um adversário derrotado numa competição. Nos EUA, Li Fong se apaixona por Mia, namorada do carateca Connor, e se torna alvo do agressivo e exímio lutador. Então, as coisas se resolvem onde? Numa luta, é claro. Para vencê-la, Li Fong é treinado por duas lendas: o senhor Han e Daniel Larusso.
Dirigido por Johnatan Eintwistle, o roteiro é inspirado no longa-metragem inaugural da franquia, lançado em 1984. Os elementos desses clássicos oitentistas são bem nítidos. A trama centrada em um adolescente criado pela mãe solo que se interessa pela hesitante namorada de um lutador violento treinado por uma academia antiética e que entra na mira do ciumento. O menino é orientado por um mestre e, sem surpresa, vence a luta final. Ou seja, a intenção foi resgatar a ideia original e a partir dela esculpir pequenas mudanças e imprimir atualizações.
Confira o trailer oficial:
São essas mudanças que movimentam a história e o fazem de maneira interessante porque colocam questões contextuais que estão na pauta, por exemplo, a imigração. Li Fong, a mãe, Dr. Fong e Han são chineses radicados nos EUA, embora o país asiático seja mostrado de forma positiva no longa. Não são imigrantes fugindo de um lugar caótico e sim buscando uma vida ainda melhor do que já tinham. Claro, na terra do Tio Sam, afinal, é um filme americano, mas já é um avanço a China, tratada como inimiga pelo atual stablishment estadunidense, ser mostrada em sua modernidade e tradições.
É partir dessa aparente boa convivência cultural que a jornada de Li Fong se desenvolve. Ele traz sua cultura representada pelos conhecimentos em kung-fu adquiridos com o mestre Han, mas tem que adaptá-la ao estilo americano. Então, entra Daniel Larusso. Essa troca é um grande mérito da fantasia do longa, elaborada a partir de um bom roteiro que insere oportunas falas em mandarim, mas sem grandes audácias e sem fugir da fórmula do filme de 1984.
Na direção, as lutas são mais convincentes do que em produções anteriores, inclusive que a primeira. Há até um golpe-chave, como no longa de 1984, que foi resolvido no lendário, divertido e inverossímil “golpe da garça”. Na obra atual, é um chute voador mais plausível, já que sua base é o kung-fu. Apesar do conceito calçado em “Karatê Kid”, o filme não se acomoda na nostalgia, com o argumento inaugural usado com o molde para o novo enredo.
As cenas de luta contam com coreografias precisas e vibrantes, valendo-se da plasticidade do elenco que participa desses instantes. A mescla de caratê e kung-fu é a tônica distribuída em ótimos enquadramentos e movimentos de câmera, além dos cenários perfeitos. Em termos de fotografia, prevalece a estética avermelhada que acentua levemente a ideia de intensidade, como a paixão que envolve a entrega dos lutadores pelas artes marciais. Ao mesmo tempo, tons frios suavizam o rubro equilibrando com a nuance de serenidade. É eficiente a atuação de Ben Wang com seu Li Fong que, felizmente, pouco lembra o Daniel Larusso de 1984, a não ser pelas semelhanças do roteiro. É um personagem com potencial para novas aventuras.
“Karatê Kid – Lendas” é um bom filme, que presta um tributo ao marco zero da franquia, sem soar como cópia preguiçosa, nem como sequência que se aproveita do sucesso da série “Cobra Kai”, embora a cena pós-crédito reserve uma bem humorada surpresa. Ele entrega sobretudo um entretenimento leve e agradável, com roteiro animado e direção obediente ao sistema consagrado pela franquia. O desgaste da fórmula vitoriosa da franquia “Karatê Kid” é compensada em parte por um esforço honesto em renovar a saga.
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