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Prepare a pipoca: “Homem com H”, filme sobre a história de Ney Matogrosso, chega ao streaming

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O filme “Homem com H”, após sucesso de exibições nos cinemas, chegou desde a última terça-feira (17) ao canal de streaming (Netflix). O filme já foi assistido por 600 mil pessoas no Brasil, com destaque internacional, foi exibido na 27ª edição do Festival de Cinema Brasileiro de Paris.

Ao ser disponibilizado no canal do streaming, o longa-metragem estará disponível em mais de 190 países. Narra a história do cantor sul-mato-grossense Ney Matogrosso, desde a infância em Bela Vista e Rio de Janeiro até a consagração com um dos maiores nomes da MPB.

Confira o trailer oficial:

O Assunto é Cinema:

Programa veiculado todas as quintas-feiras, a partir das 22 horas, na Rádio 104,7 FM Educativa e produzido pelos jornalistas Clayton Sales e Daniel Rockenbach, analisou o filme “Homem com H”.

O roteiro foi escrito por Esmir Filho, baseado na biografia de Júlio Maria, e a direção também é de Esmir Filho. Saltam aos olhos no filme os mesmos graus de ousadia e tom provocativo que marcam a personalidade de Ney Matogrosso. Ao mesmo tempo, transgressor, abusado e enérgico, o cantor exala uma intrigante serenidade, tudo embalado a uma explosiva sensualidade.

Portanto, roteiro e direção conseguem equilibrar essas facetas com habilidade e respeito sem perder a essência desafiadora. Afinal, Ney Matogrosso enfrentou diversas formas de autoridade, tanto no plano pessoal, como seu pai militar, quanto no institucional, como a censura, o puritanismo de fachada do conservadorismo nacional e a crítica implacável de setores da imprensa cultural.

Por isso, o filme é exitoso em salientar essas figuras de autoridade, posicionando-as como antagonistas frontais ao destemido Ney Matogrosso. No entanto, a produção evita o discurso maniqueísta, já que, longe de ser um herói homérico, o artista é um ser humano com suas peculiaridades. As reconstituições das várias épocas abordadas no longa são perfeitas, especialmente na fartura imagética do Secos & Molhados, traduzindo para nossos olhos o contexto visual da ditadura.

Nesse aspecto, a maquiagem é primorosa. A essência camaleônica de Ney Matogrosso exige e ganha excelente representação. Elementos como fotografia, movimentos e enquadramentos de câmera parecem caminhar sob um conceito de brilho e treva, com pontos de luz arrebatadora e escuridão misteriosa. Complementam-se aberturas paisagísticas exuberantes e close-up penetrantes, que perfazem uma proposta de dualidade.

A escolha das músicas e como foram inseridas merecem aplauso. Sem apelar ao expediente preguiçoso de usar canções para preencher tempo, as mais representativas são entremeadas de cenas breves, precisas e significativas da biografia de Ney. Ou seja, além de dinamizar o ritmo, a trilha sonora oferece contexto à jornada pessoal do cantor.

Entre tantos pontos altos, Jesuíta Barbosa é o mais notável. Sua atuação abraça a complexidade única de Ney Matogrosso com desenvoltura. A impavidez casada com a abundância de expressões de rosto, corpo e voz são conjugadas com precisão e, principalmente, com caudalosa intensidade. O elenco coadjuvante também merece destaque, pois orbita em torno de Ney, mas consegue ressaltar a importância de cada personagem na trajetória do artista.

Outro ponto é o uso equilibrado do erotismo homoafetivo, o que requer uma sabedoria e coragem. No país que é um dos que mais mata pessoas LGBTQIA+, abordar as paixões e rebeldias libertárias do Ney Matogrosso jovem com a mesma lente que uma relação heterossexual requer bravura. Tudo é feito com audácia e bom senso, sem amarras, nem apelação barata.

A bissexualidade é parte vívida da história de Ney. Além disso, a obra corrige a terrível falha de outra cinebiografia. “Cazuza – O Tempo Não Para” (2004) omite a relação com Ney Matogrosso. Já “Homem com H” salienta a importância do cantor para a vida e a carreira de Cazuza.

Por essas e outras, “Homem com H” é um filme sensacional, sensato quando deve ser e escandaloso nos instantes certos. E não haveria outra maneira de retratar um artista tão único como Ney Matogrosso. Além disso, a obra suscita várias reflexões oportunas sobre sentidos da arte, moral, sexualidade, mercado da música, enfrentamentos políticos e sobretudo liberdade. A verdadeira liberdade conquistada com destemor e perspicácia por um artista “selvagem” e sensível inscrito nas páginas da cultura nacional.

E o melhor: ainda em vida e arrasando nos palcos com a mesma alma. O filme nos traz tudo isso por meio de uma experiência arrebatadora, espantosa e catártica. E “Homem com H”, título de um dos principais sucessos do cantor, é o nome ideal para o longa. Afinal, entre rastro de cobra e couro de lobisomem, Ney Matogrosso triunfou e deixa um legado de poder e autenticidade na arte e na vida.

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