O Assunto é Cinema, programa veiculado todas as quintas-feiras, a partir das 22 horas, na Rádio 104,7 Educativa, e produzido pelos jornalistas Clayton Sales e Daniel Rockenbach, analisou o jogo Mortal Kombat 1, lançado para consoles da nova geração e PCs.
A trama segue os acontecimentos do epílogo do jogo anterior, que mostrava Liu Kang e Shang Tsung lutando pela posse da coroa de Kronika, a fim de recontar a história desde o início dos tempos. Após a vitória de Liu Kang, a cronologia foi reiniciada conforme os desígnios do novo Deus do Fogo, instaurando uma era de paz e prosperidade em todos os reinos.
Como nenhuma tranquilidade na franquia é duradoura, surge uma nova ameaça que manipula os acontecimentos para que velhos inimigos de Liu Kang e seus aliados voltem a ter acesso aos seus poderes. Assim, Shang Tsung e Quan Chi, da nova era, conspiram com o general Shao Kahn para conquistar poder e subjugar seus adversários. Basicamente, trata-se de um reboot que pouco altera o que já foi contado anteriormente — e esse é o grande problema do novo jogo.
Mortal Kombat é uma franquia fortemente influenciada pelo cinema em sua mitologia. O ator Jean-Claude Van Damme inspirou Johnny Cage; a atriz Cynthia Rothrock deu origem a Sonya Blade; Os Aventureiros do Bairro Proibido, de John Carpenter, influenciou a criação de Raiden e Shang Tsung; os ninjas multicoloridos vieram dos inúmeros filmes de artes marciais dos anos 1980; e Operação Dragão serviu de base visual para Liu Kang, inspirado em Bruce Lee. Essa herança cinematográfica cria grande expectativa dos fãs em relação aos personagens e ao modo história.
A trama de MK1, como o jogo é conhecido no cenário competitivo, é mediana se comparada à narrativa de seu antecessor. O arco iniciado em 2012 com MK9 teve um desfecho criativo em MK11, dando a entender que a nova fase traria o primeiro Kung Lao, décadas antes do torneio original, com novos personagens. Essa proposta empolgou os fãs, mas foi deixada de lado em favor de um confuso multiverso.
Como o foco principal dos jogos de luta raramente é a história, é importante destacar que a jogabilidade de MK1 é a melhor de toda a franquia. Os golpes são fluidos, os combos exagerados e, o principal, há muito sangue nos tradicionais fatalities — as execuções exageradas que marcam a série desde o início. O retorno dos animalities torna tudo ainda mais insólito e infame. Desde que os jogos passaram a utilizar gráficos poligonais, os personagens parecem bonecos cheios de litros de sangue, prontos a serem desmembrados, incinerados, ou o que for.
O modo história conta ainda com uma expansão paga que só aumenta a confusão do multiverso proposto, principalmente por causa do fraco vilão Havik e sua motivação pouco convincente. Soma-se a isso o modo Invasão, que até oferece alguma novidade ao explorar as consequências do multiverso, mas sem nada extraordinário. Ainda assim, diverte e renova o interesse do jogador a cada temporada. Já o modo online e as tradicionais torres se mantêm como os mais interessantes — é no multiplayer que MK1 realmente brilha, consolidando-se como e-sport nas competições oficiais.
A maior fraqueza do jogo está na dependência do modelo de “jogo como serviço” e nas infames microtransações. A proposta de lançar novas temporadas, pacotes de personagens extras e expansões da história para manter o interesse dos fãs ao longo dos anos fez com que MK1 se tornasse caro demais. Quem comprou no lançamento precisou adquirir o jogo base, a expansão, pacotes adicionais de personagens e ainda a moeda do jogo, que desbloqueia itens cosméticos.
A imposição comercial forçou a trama do multiverso — um conceito já desgastado — que rendeu combinações curiosas, como um Johnny Cage mímico com movimentos de ninjas, mas que, no geral, serve apenas como subterfúgio para lucrar com os fãs. O ninja rosa Floyd, uma brincadeira com a banda Pink Floyd, chegou a resgatar a nostalgia dos grandes mistérios da franquia, mas foi apenas um elemento isolado. As participações especiais de personagens como Conan, o T-1000 e Ghostface são interessantes, porém também vendidas como conteúdo adicional.
Mortal Kombat 1 apresenta os gráficos mais belos da nova geração, mérito em parte da Unreal Engine 5. Uma ressalva: evite a versão para Nintendo Switch — ela ficou muito abaixo do nível das demais. No geral, é um jogo que aproveita bem o hardware atual de placas de vídeo e processadores, mas infelizmente se perde no conceito mercadológico imposto. Diverte por ser tecnicamente bem feito, com uma mecânica sólida, mas soa como “mais do mesmo” em uma embalagem refinada — algo comum na atual geração. Uma pena, mas não foi desta vez que a saga ousou arriscar.
Mortal Kombat 1: Trailer de lançamento oficial:
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