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O Assunto é Cinema revisita série clássica “Amazing Stories”

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O Assunto é Cinema, programa veículado todas as quintas-feiras, a partir das 22 horas, na Rádio 104,7 Educativa e produzido pelos jornalistas Clayton Sales e Daniel Rockenbach, revisitou a clássica série de TV “Amazing Stories”. E a nota se supera: 11, com louvor.

Confira na crítica de Daniel Rockenbach:

Produzida por Steven Spielberg e colocada no ar entre 1985 e 1987, a produção adaptou livremente a antologia literária de contos criada pelo lendário editor pulp Hugo Gernsback em 1926 e que se mantém publicada até hoje. Cada episódio contava uma história fechada, em segmentos de pouco menos de meia hora de duração, formato que conseguiu transpor para o audiovisual o conceito do conto curto da publicação original.

“Amazing Stories” reuniu atores como Kiefer Sutherland, Charlie Sheen, Tim Robbins, Mark Hamill, John Lithgow, Patrick Swayze, Kevin Costner, David Carradine, Dan Aykroyd, Danny DeVito e outros tantos em seus 45 episódios. Entre os diretores convidados por Spielberg estão grandes nomes como Martin Scorsese, Robert Zemeckis, John Landis, Joe Dante e Clint Eastwood, apenas para destacar os mais reconhecidos na época. Ao longo de duas temporadas a série foi indicada a 12 Emmys, tendo levado cinco estatuetas e, mesmo com boas críticas, acabou cancelada.

O formato antológico de “Amazing Stories” tem raízes profundas na TV norte-americana da década de 1950, no trabalho de Rod Serling na clássica série “Além da Imaginação”. O lendário roteirista e produtor foi inclusive um dos primeiros a dar o papel de diretor a um jovem Steven Spielberg na série “Galeria do Terror”, uma espécie de versão de “Além da Imaginação” para os anos 1970. Em ambas as séries, Serling bebeu da fonte das magazines pulp como “Weird Fiction”, “Astounding Science Fiction” ou mesmo da “Amazing Stories”.

O formato das publicações ganhou nas telas uma estrutura simples nos tradicionais três atos com uma apresentação instigante, uma virada dramática no entreato e um final surpreendente, tudo embalado por um narrador onipresente, o próprio Rod Serling. “Amazing Stories” de Spielberg dispensou o narrador, mas manteve a estrutura e o curto tempo para desenvolvimento da trama. Os temas fantásticos eram expostos na abertura embalada pelo tema de John Williams enquanto naves espaciais, baralhos mágicos e fantasmas circulavam pela tela.

Um dos elementos mais interessantes da série estava na diversidade dos episódios que iam do humor em “Papai Múmia”, dirigido por William Dear, ao drama de “Vanessa no Jardim”, comandado por Clint Eastwood. As confusões do ator que, prestes a ser pai, não consegue tirar a maquiagem de múmia antes de chegar ao hospital provocavam risos numa semana enquanto na outra o drama do pintor que perde o amor de sua vida em uma tragédia para depois descobrir que ela pode voltar à vida por meio de suas pinturas ia ao ar. Essa miscelânea de temas e abordagens era um dos elementos mais poderosos da antologia, algo que faz falta nos dias de hoje.

Outro ponto alto de “Amazing Stories” era a criatividade do uso de efeitos com o orçamento apertado que a série dispunha. Entre o uso de computação gráfica rudimentar e truques de câmera, a série teve até uma mistura de animação e live action no episódio “A Missão”, o episódio especial dirigido por Spielberg estrelado por Kevin Costner, Kiefer Sutherland e outros futuros astros da década de oitenta. Entre tantos episódios, não tinha como o espectador não ter seus favoritos: eu mesmo adoro o “Dia da Mudança”, episódio que relata a história de um jovem que descobre que vai ter que abandonar a Terra para voltar com seus pais para o planeta natal, o que ele não esperava é que a amiga que ele tanto lamentava deixar para trás também era de lá.

Entre tantos bons roteiros que o grupo de roteiristas entregou, alguns projetos tomaram outros rumos. É o caso do filme “O Milagre Veio do Espaço”, escrito por Mick Garris e dirigido por Matthew Robbins ou do jogo para computador “The Dig”, lançado pela LucasArts em 1995 a partir de uma ideia de Spielberg para a segunda temporada de “Amazing Stories”. São dois bons exemplos de que muitos roteiros poderiam ser desenvolvidos para projetos maiores, o que só reforça como a série funcionou como laboratório para cineastas e roteiristas.

“Amazing Stories” ganhou uma nova versão produzida por Bryan Fuller em 2020 para a AppleTV, mas a série repetiu o erro da nova versão de “Além da Imaginação” que insistiu em expandir a duração dos episódios para pouco mais de 50 minutos, algo que prolongava e enfraquecia a catarse das reviravoltas de cada trama. É uma pena que a tradição literária que inspirou o formato antológico desse tipo seriado esteja cada vez mais distante das produções atuais. Outro fato a se lamentar é a dificuldade de encontrar esta e outras tantas séries nos serviços de streaming. No Brasil, “Amazing Stories” pode ser encontrada apenas em DVD.

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